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segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Opinião - Nomadland Sobreviver na América no século XXI de Jessica Bruder

 





A autora Jéssica Bruder é jornalista e foi fazer um trabalho de investigação com as comunidades nómadas nos EUA. Inicialmente pretendia fazê-lo por pouco tempo, acabou por fazer trabalho de campo e acompanhar estas pessoas durante dois anos.

O resultado desse trabalho é este livro que nos mostra a realidade nua e crua dos EUA em pleno século XXI. Quando comecei a ler a história destas pessoas, na sua grande maioria, com mais de 60 anos, não quis acreditar que pessoas idosas, doentes, e idade de reforma tivessem de trabalhar para poderem comer. A maioria porque as suas pensões de reforma são miseráveis, não conseguiram manter as suas casas e a única opção que tiveram foi arranjar uma roulotte e ir à procura de trabalho pelo país fora. Trabalho esse que é precário e sazonal, o único que conseguem arranjar e que lhes tira a fome: seja na apanha da beterraba, a serem anfitriões nos parques de roulottes ou a trabalhar na Amazon.

Este livro também aborda as questões laborais no pais mais rico do mundo... E percebe-se como essa riqueza é obtida, à custa dos mais fracos, dos idosos e dos desempregados...
Uma das comunidades que a autora acompanhou acampam sazonalmente todos os anos nos parques de roulottes que existem perto dos armazéns da Amazon, no Nevada. Em torno do armazém há parques onde se pode estacionar a roulotte para os trabalhadores, também da propriedade da empresa... 
A Amazon tem um programa próprio e específico de recrutamento de idosos para trabalharem nos seus armazéns durante alguns meses do ano, quando têm picos de trabalho. Por 10/11 dólares à hora trabalham horas a fio, em turnos noturnos, onde chegam a fazer 20 km a andar dentro do enorme armazém. A Amazon tem dispensadores gratuitos de analgésicos e anti-inflamatórios para os trabalhadores tomarem, porque muitos só com medicação conseguem trabalhar...
E como se preocupam com os seus trabalhadores, até dão dicas de como preparar as roulottes para as temperaturas negativas que irão suportar, claro que com produtos que se pode comprar na Amazon! E como se prepararem fisicamente para começar a trabalhar no armazém e percorrer os vários km diários.
É à custa destas pessoas que conseguem preços mais baixos? É isto que queremos para os nossos filhos, pais e avós?  Isto é, no mínimo, chocante!

Felizmente que há sempre um lado bom nas situações más e a autora conseguiu bem demonstrar a forte comunidade que se estabelece entre estes trabalhadores nómadas. A preocupação uns com os outros, a ajuda que há, as festas e as concentrações que são realizadas em vários pontos do país.

Gostei muito de ter lido este livro e ter tido conhecimento desta triste realidade. Conhecia a existência destas comunidades nómadas mas desconhecia por completo que muitos são pessoas idosas em idade de reforma que não conseguem ter rendimentos para manter uma casa. 
Apesar de a autora se focar na história de Linda, dá-nos a conhecer histórias de outras pessoas, e é impossível não nos emocionarmos com estas histórias comoventes. Muitos pessoas com bons trabalhos e rendimentos acima da média, que por este ou outro motivo ficaram sem nada...

Um livro a não perder!

O filme baseado neste livro, com o mesmo nome, venceu o Óscar para melhor filme, melhor realizador e melhor atriz. Também venceu os Globos de Ouro e melhor filme no BAFTA 2021. Será o meu próximo filme a ver.

Classificação: 4/5


Agradeço à editora o envio de um exemplar deste livro.



SINOPSE

Numa América que parece distópica, mas é real e atual, a jornalista Jessica Bruder, na melhor tradição de um jornalismo imersivo, viveu três anos e vinte e cinco mil quilómetros em acampamentos nómadas, acompanhando empregados low-cost que, sem outra forma de subsistência, desistiram das casas tradicionais para habitar rulotes e furgonetas que transportam, de costa a costa e do México à fronteira com o Canadá, na obsessiva busca de um pagamento quase mendigado.

Bruder, num estilo que oscila subtilmente entre o rigor jornalístico e a emoção literária, contorce de forma dolorosa os tradicionais conceitos de comunidade e família e eterniza uma viagem pela alma dos Estados Unidos do século XXI. São as histórias comoventes, e destemidas, de antigos professores, gerentes, empregados de mesa e de quem mais possa imaginar-se, todos à procura de um sonho americano que tiveram e perderam sem perceber onde nem como.

Nomadland foi a inspiração para o filme de Chloe Zhao que venceu os Óscares de Melhor Filme, Melhor Realização e Melhor Atriz (Frances McDormand).