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sexta-feira, 5 de março de 2021

Opinião - Coisas de Loucos, Catarina Gomes

 




A propósito de uma reportagem sobre o encerramento em 2011 do primeiro hospital psiquiátrico português, o Hospital Miguel Bombarda, em Lisboa, Catarina Gomes encontra uma caixa de cartão.

Curiosa pediu autorização para a abrir. Estava repleta de objectos pertencentes a antigos doentes do hospital, também conhecido por Hospital de Rilhafoles.

A partir destes objectos a autora investigou e tentou descobrir a quem pertenceram. O resultado é este livro que nos conta a história de 8 antigos pacientes do Miguel Bombarda.

Um conjunto de histórias nuas e cruas sobre o que foi ser doente psiquiátrico nos anos 20/30 até aos anos 60/70 do século passado.

Interessante e angustiante saber como as doenças mentais era tratadas, a que sujeitavam os doentes, as condições do hospital...Os eletrochoques, as terapias de banhos gelados e quentes e até a lobotomia eram usados para curar os males da cabeça.

A homossexualidade tratada como doença, acreditando-se que com dois furinhos na cabeça resolveriam o "problema" cujo principal sintoma nos doentes era "efeminacão, cujo sinal mais óbvio era a sua preferência pelos trabalhos das mulheres".

Factos importantes que reti:
🔹só em 1973 a homossexualidade saiu da lista de doenças da Associação Americana de Psiquiatria;
🔹só em 1982 o crime de prática dos chamados "vícios contra a natureza" foi abolido da nossa lei.

Não foi assim há tanto tempo...

Um livro muito bem escrito que conseguiu prender-me a esta realidade que existiu no nosso país.

Histórias duras que me emocionaram de pessoas que foram ostracizadas pelo sistema, pela sociedade e muitas vezes pela própria família.

Obrigada ao Álvaro dos @literacidades e à @harleyaddams por me darem a conhecer este livro!

Classificação: 4/5


SINOPSE

Uma caixa de objectos abandonados no Hospital Psiquiátrico Miguel Bombarda contém as pistas para resgatar do esquecimento a vida de doentes que ao longo de décadas ali permaneceram confinados.
Coisas de Loucos teve origem na descoberta acidental de uma caixa de objectos de antigos doentes do primeiro hospital psiquiátrico português, o Miguel Bombarda.

Catarina Gomes inicia então uma série de investigações para encontrar os «loucos» a quem pertenciam esses objectos abandonados. Nascidos entre o final do século xix e o começo do século xx, muitos foram admitidos em «Rilhafoles», nome original do Bombarda. Os psicofármacos e a terapia ocupacional não tinham ainda sido inventados, e por isso o único «tratamento» que receberam foi o do isolamento.

Mas antes de serem forçadas ao confinamento estas pessoas tiveram família, amores, trabalho, tiveram planos de futuro. São essas suas vidas que Catarina aqui resgata do esquecimento.


3 comentários:

  1. Fiquei com imensa curiosidade de ler!

    jiaescreve.blogspot.com (Sou nova neste mundo dos Blogs, portanto quando tiveres algum tempinho livre faz-me uma visita e deixa a tua opinião)

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    Respostas
    1. Olá, já fui espreitar o teu blog e deixar um comentário. Beijinho

      Eliminar
  2. Olá Inês,
    Não conhecia esse livro mas gostei bastante da sua resenha. Deve ser interessante e meio aterrorizante ler sobre esses casos, e como essas mudanças tem realmente tão pouco tempo.

    Beijo!
    www.amorpelaspaginas.com

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