Em As Resistentes, a autora, neta de sobreviventes polacos do Holocausto, transporta-nos para o período da Segunda Guerra Mundial na Polónia. Conta-nos como várias mulheres tiveram um papel importante neste tempo da nossa história. Infelizmente são histórias pouco conhecidas, pelo que a autora, após vários anos de pesquisa, quis deixar por escrito este relato verdadeiro da participação deste grupo de corajosas mulheres judias que se tornaram uma importante rede de resistência contra os nazis.
Os relatos centram-se em Reina Kukielka, na altura com apenas 17 anos, mas também em tantas outras mulheres que fizeram parte desta rede como Zívia, Frumka ou Chajka. Estas mulheres judias fizeram tudo o que podiam para lutar e resistir contra o nazismo: foram contrabandistas de pessoas, armas e granadas, documentos falsos e vários tipos de informação; foram sabotadoras, espiãs e serviram de correio para os mais variados fins; e até chegaram a combater. Esconderam armas dentro de pães, mensagens em código nos seus cabelos e contribuíram para a construção de bunkers subterrâneos onde vários judeus se refugiavam dos nazis. Fizeram-se passar por polacas cristãs e até resgatavam e sustentavam judeus escondidos.
"Frumka tornou-se obcecada: quem estivesse em condições de lutar não devia esperar que o salvassem! A autodefesa é o único meio de redenção! Morrer de uma morte heroica!"
"Tínhamos de ter uma vontade de ferro. Era isto que repetia a si mesma no comboio, enquanto atravessava florestas a toda a velocidade, passava por inspeções com armas presas no corpo, um sorriso estampado nos lábios."
Muitas destas jovens mulheres tinham um grande sentimento de culpa por terem sido, em alguns casos, as únicas sobreviventes na família. E penso que também por isso tinham este desejo de lutar, pois já não tinham nada a perder, além das suas vidas.
Apesar de ter havido quem quisesse transmitir a sua experiência, e até houve quem escrevesse as suas histórias, grande parte destas histórias da resistência foram silenciadas, porque não interessavam do ponto de vista político e até porque as achavam inverosímeis e falsas. E por isso nunca foram tidas como relevantes e importantes de divulgar, acabando por, passados 75 anos, a maioria destas mulheres extraordinárias ser desconhecida.
"Censuraram-se os escritos de algumas mulheres para se adequarem a motivações políticas, outros foram tratados com incredulidade acusados de serem uma invenção."
É óbvio que estes tempos foram terríveis, as perdas humanas foram em grande escala, mas, para mim, os sobreviventes tiveram de ter uma força incrível para superar, ou, pelo menos, tentar superar toda esta vivência. O que me perturba sempre que leio sobre estes temas é pensar que no fim da guerra, há um retorno à vida antes da guerra. Mas esse período pode ser tão ou mais duro do que a guerra em si. O "voltar a casa" para a grande maioria, é para quem e para onde? Tantas famílias completamente desfeitas, sobreviventes que nunca conseguiram juntar-se à família, casas e bens materiais que nunca foram recuperados... Não sei onde os sobreviventes foram buscar forças para se reerguer, numa época onde os cuidados mentais eram tão precários e irrelevantes, é isto que mais me perturba e me deixa a pensar.
Foi uma leitura dura, crua e real deste pedaço da nossa história. Não foi um livro que consegui ler de uma assentada, tive de ir alternando com outras leituras mais leves. E não é mais um livro sobre o Holocausto e a 2ª Guerra Mundial. São histórias desconhecidas de mulheres tão jovens que tiveram a coragem e até a audácia de lutar e fazer a diferença. Leitura obrigatória para quem gosta de saber mais sobre este período negro da história mundial.
Classificação: 4/5
Agradeço à editora o envio de um exemplar deste livro.
SINOPSE
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